Bom Dia!!!
Continuando nossa Série especial sobre Musicalização Infantil, hoje nossa convidada Ana Lúcia Gaborim, responde mais uma dúvida bastaste recorrente, para os pais que desejam iniciar os filhos no universo musical.
Aula de musicalização ou de instrumento musical: o que é melhor?
Essa é uma questão relativa e bastante complexa. As aulas de
instrumento musical não têm uma metodologia padronizada, ou seja, cada professor adota seu próprio método de
trabalho. Assim, encontramos professores que iniciam crianças ao piano, por
exemplo, a partir de 3 anos, oferecendo aulas mais lúdicas onde há maior
exploração do instrumento; outros, só aceitam ensinar crianças que já estão em
fase de alfabetização, pois sua metodologia é centrada na leitura de partitura.
No caso de instrumentos de cordas, há professores que iniciam crianças ao
violino também a partir dos 3 anos, adotando um instrumento de tamanho menor
que o convencional (os chamados “violinos ¾”, por exemplo); mas há outros
professores que não concordam em usar instrumentos menores, pois acreditam que
a adaptação ao tamanho natural é mais difícil. Instrumentos de sopro também
dependem muito do controle respiratório e da coordenação dos dedos, portanto,
geralmente os professores iniciam pela flauta doce e depois vão introduzindo o
instrumento pretendido (trompete, clarinete, flauta transversal, etc.) que
também é mais pesado, ou seja, precisa ser suportado pela criança. No caso
específico do violão, mesmo que se use um instrumento de tamanho menor, as
cordas de nylon costumam machucar as pontas dos dedos – incômodo que nem sempre
é suportado pelos pequenos, além de ser mais difícil manter uma postura
adequada para que a criança se adapte ao instrumento enquanto toca.
Há ainda outros fatores que devem ser levados em
consideração: como as crianças ainda são imaturas e tem pouca experiência
musical, muitas vezes a escolha do instrumento é intuitiva, ou então, é imposta
pelos pais; dessa forma, a criança pode ter uma certa expectativa (por exemplo,
sair tocando uma melodia na primeira aula) e como o instrumento muitas vezes
não corresponde a essa expectativa, a criança acaba se frustrando e desiste das
aulas. Além disso, instrumentos musicais em geral são um alto investimento
financeiro e requerem muito cuidado no manuseio e no transporte, portanto, nem
sempre é adequado transmitir essa responsabilidade para as crianças pequenas.
Sendo assim e a meu ver – enquanto mãe e educadora -, acho
que as aulas de musicalização infantil são o caminho mais natural para iniciar
a criança no estudo da música. Como já escrevi nos posts anteriores, elas podem se iniciar até antes do nascimento,
abrindo caminho para uma maior interação com a Música. As aulas são em grupo, o
que já é um elemento motivador (geralmente as aulas de instrumento são
individuais); as crianças são estimuladas a cantar, o que geralmente não acontece
em aulas de instrumento (lembrando que, como nos disse o regente Georgi Solti,
“cantar é a base de todo fazer musical”); a apreciação de vários estilos e
gêneros também é constantemente estimulada, bem como a atenção e a concentração
no ouvir e no fazer musical, ampliando as possibilidades de compreensão
musical.
A musicalização também oferece o contato com instrumentos musicais
diversos, de forma que as crianças vão reconhecendo cada timbre e identificando
suas particularidades. Por meio de uma proposta lúdica, as crianças vão
construindo as bases do seu conhecimento musical (que posteriormente será
direcionado para o instrumento) e despertando o interesse para um estudo mais
intenso, mais aprofundado, mais específico da Música. Assim sendo, a partir das
aulas de musicalização as crianças poderão ter uma escolha mais segura do
instrumento que irão estudar e poderão ter mais motivação para se dedicar a ele
(lembrando que o estudo do instrumento exige muitas horas de dedicação), bem
como poderão ficar mais satisfeitas com os resultados. E é exatamente isso que
nós, como pais, queremos, além de sentar na primeira fila para ver os
resultados e aplaudir muito nossos pequenos artistas, não é mesmo?
Ana Lucia Gaborim (São Paulo,
1976) é doutoranda em Música pela USP, onde realiza pesquisa sobre
regência de coro infantojuvenil. É Mestre em Música e Bacharela em
Composição e Regência pela UNESP. Foi bolsista de diversos festivais de
música nacionais e internacionais; participou de diversos encontros de
Educação Musical promovidos pela FLADEM, ISME e ABEM. Integrou e regeu
diversos grupos corais em São Paulo e atuou como professora de Música em
escolas de ensino fundamental e conservatórios. Em Campo Grande,
desenvolveu projetos de musicalização infantil em igrejas, trabalhando
também com musicalização de bebês. Atualmente é professora efetiva do
curso de Licenciatura em Música da UFMS, nas áreas de Regência, Canto
Coral e Prática de Ensino. Coordena os projetos de extensão “PCIU –
Projeto coral infanto-juvenil da UFMS –“, “Semana da Voz”, “Encontro de
Regentes Corais”, “Simpósio Coral Infantil” e os Painéis Funarte de
Regência Coral em Campo Grande (MS). É regente da Camerata de Cordas da
UFMS e integra o Grupo Vocal Feminino “Maria Bonita”. É também mãe de
três meninos: Erik (11), Davi (7) e William (4). E-mail:
ana.gaborim@ufms.br Facebook: Ana Lúcia Gaborim. Outros artigos da autora estão disponíveis em www.academia.edu