sexta-feira, 6 de maio de 2016

Meu primeiro dia das mães sem Maria!

Bom Dia amores!

O Dia das mães se aproxima e hoje quero dividir um post comovente escrito por uma grande amiga, que perdeu sua mãe neste ano e escreveu um lindo texto contando um pouco como tudo aconteceu e seus sentimentos em passar o primeiro dia das mães sem a pessoa mais importante da sua vida.
Fica também a reflexão para aproveitarmos cada segundo ao lado de quem amamos.
Muito obrigada Mari por compartilhar sua linda história de amor!

"Eu não imaginei que aquele dia 3 de Dezembro de 2015, mudaria tanto a minha vida...
Tudo amanheceu normal em casa, o barulho do fogão acendendo para esquentar a água do café... até que minha mãe me chamou e disse:
- Mariana, vem cá. Eu estou tonta.
Pulei da cama e fui para a cozinha.
Percebi que ela estava com a percepção espaço-temporal alterada.
Liguei para minha irmã e fomos para o hospital. Um dia todo internada e nenhuma alteração no exame de sangue ou na tomografia. Um remédio receitado e o diagnóstico de um AVCIT - Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Transitório.
Passado o susto, a vida seguiu normalmente, marcamos o geriatra para ela, as idas ao mercado sozinha continuaram de forma tranquila...
Até que no domingo, dia 20 de Dezembro, assistimos a final do mundial de futebol e repetiu-se todo o ocorrido do dia 3...
Minha irmã estava viajando, chamei o SAMU e ela foi levada para o hospital, mais um dia inteiro e o mesmo diagnóstico: AVCIT.
Na manhã de segunda, fomos ao cardiologista; bateria de exames, arritmia e muitas alterações nos resultados; ela foi internada dia 23 de Dezembro.
Começou aí o pior Natal da minha vida...
Na tarde do dia 24, minhas tias, amigas e primas, nos visitaram, levaram até rabanada para a gente. Era o máximo de proximidade do Natal que teríamos.
Logo minha mãe que adorava essa data e fazia a rabanada mais gostosa do planeta...
Na noite do dia 24, enquanto a maioria das famílias, inclusive a nossa, se reuniam para celebrar o nascimento de Jesus, eu e minha mãe estávamos na sala de espera para que ela fizesse uma ressonância magnética cerebral.
Só eu sei a solidão e o frio daquela sala enquanto o exame era feito, ninguém poderá sentir por mim o que esse Natal significou.
No dia 26, o médico me chamou no corredor, veio a bomba... o resultado da ressonância apontou múltiplos nódulos sugestivos de metástase.
Sim. Câncer.
Entrei no quarto e ela me perguntou:
- eu vou ficar boa?
Eu tremia como nunca havia acontecido na minha vida, apenas respondi:
- sim mãe, só apareceram algumas sequelas reversíveis do avc.
Entrei no quarto ao lado, que estava vazio, comecei a passar mal, um buraco se abriu debaixo dos meus pés...
Minha irmã chegou e iniciamos uma busca louca para tentar algum tratamento.
No dia 30 de Dezembro, veio a suspeita de que o tumor primário era no seio, nesse dia, ela soube apenas que tinha um caroço e provavelmente precisaria ser operada. Sentamos as três na sala e ela disse que não queria ninguém preocupado e que se algo acontecesse, ela queria ser cremada.
Passamos o réveillon juntas, minha mãe nunca se abalava diante de obstáculos, só achou que seria um início de ano complicado. Eu tive medo... eu estava certa.
Dia 7 de Janeiro, ela passou mal novamente, foi internada e as informações vieram como uma avalanche.
Câncer, tumor de mama confirmado, paralisia do lado esquerdo, movimento involuntário do lado direito, exames diários, trocas incontáveis de fraldas, pneumonia, anemia, choque... moramos mais de um mês no hospital.
E a pior constatação: câncer em estado terminal.

Meus amigos organizaram uma campanha para arrecadação de fraldas, foram mais de 70 pacotes; a equipe de basquete (esporte que ela amava) do Bauru e o ator Emílio Dantas, gravaram vídeo desejando muita força para ela. Foi uma forma que encontrei de fazê-la se sentir querida e amada. Os olhinhos dela brilhavam assistindo.
Tive que tomar decisões horríveis com a minha irmã; decidimos não submete-lá a radioterapia, decidimos não contar nada abertamente, em algum momento ela desconfiou, mas nós jamais daríamos certeza.
Eu não sabia mais o que pedir para Deus, fiz tantas promessas, mas sentia minha mãe cada dia mais distante, mais abatida...
Até que no dia 13 de Fevereiro, não teve jeito e ela se foi, abraçada comigo... enquanto os batimentos cardíacos baixavam de 130 para 48, eu a abracei e agradeci por tudo, pedi perdão por não ter contado toda a verdade para ela... disse que não saberia o que fazer para amenizar a falta que sentiríamos uma da outra. Desejei paz e ao olhar para ela, uma lágrima escorreu por seu rosto.
Nessa hora a equipe médica já estava no quarto, minha irmã chegou, ela deu o último suspiro.
Mais que a minha mãe, eu perdi uma grande amiga, uma parceira, sabe?
Perdi aquela que me amava incondicionalmente, que pagava o preço comigo, que deixava sempre o último pedaço de chocolate para mim.
Desfazer o quarto dela em casa, foi a parte mais dolorosa desse processo. 
Ela era espetacular, uma avó sensacional para o meu sobrinho; a cada visita dele, ela acordava absurdamente bem. Enquanto eu ainda conseguia ser objetiva com Deus, eu pedia para que ela ficasse tempo suficiente para que o Arthur lembrasse dela, talvez aí esteja uma das minhas maiores dores, daqui a algum tempo ela será só uma lembrança na fotografia.
Minha mãe me ensinou sobre amor de forma simples, além do "eu te amo" trocado constantemente, todo mesversário, ela me parabenizava, me levava café na cama de manhã e me enchia de beijos, sempre acenava para mim da varanda... me abençoando.
Eu morri um pouco com ela, a vida perdeu um tanto do seu brilho, preciso me esforçar de forma surreal para levantar todo dia e trabalhar, choro todos os dias, nunca mais dormi uma noite completa; mesmo com remédios. 
Esse é o meu primeiro dia das mães sem aquela pessoa que transbordava amor e fé, sem a certeza de um porto seguro para voltar todas as vezes que a vida me desse uma rasteira, de colo para chorar por qualquer frustração.
Abandono e desamparo definem bem. Fiquei com a sensação de que não posso mais errar em nada.
E aquele velho clichê: aproveite aqueles que você ama enquanto eles estão aqui, passa a fazer todo sentido.
E eu espero um dia, ser metade do que ela foi como mãe, se eu conseguir isso, talvez eu volte a ser feliz. "

-- 
Mariana M. de Moura Oliveira
Psicóloga esportiva e clínica
(61) 9548-1001

CRP 01/14263 


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