Dando continuidade a nossa Série sobre musicalidade infantil, hoje nossa convidada Ana Lúcia Gaborim, irá responder a pergunta da leitora Alessandra Ribas, que é uma dúvida de muitas pessoas. Lembrando que as perguntas sobre o tema podem ser enviadas no e-mail: maenua@hotmail.com
Pergunta da leitora:
“Você acha que os bebês são capazes de reconhecer as músicas e sons que a mãe
escuta durante a gestação ?” (Alessandra Ribas, Campo Grande MS)
A resposta é SIM. A audição é, entre os 5 sentidos, o que
mais se desenvolve na gestação. O bebê ainda não tem desenvolvido o olfato
(porque estão no líquido amniótico, não respiram), nem a visão (estão no
escuro); tampouco tem estimulados o paladar e o tato. Portanto, a partir do 5º
mês de vida, o bebê já consegue escutar os sons internos – de sua própria movimentação
e dos órgãos da mãe - bem como externos,
que chegam por meio de ondas sonoras que também se propagam no líquido. Assim,
é possível que o bebê escute o som dos instrumentos musicais, principalmente os
de maior ressonância, e sons de seu ambiente (como o latido do cachorro). Mas
esses sons chegam distorcidos, portanto, o que ele melhor escuta é a voz da
mãe.
Para que ele desenvolva a memória, como em qualquer processo
de aprendizagem, é necessária a repetição. Por isso é ideal que a mãe faça uma
seleção de canções (aquelas que gosta mais!) e cante sempre as mesmas músicas,
da mesma maneira. O bebê pode reconhecer essas canções após o nascimento.
Também é fato que os bebês se acalmam – e até dormem - quando ouvem as batidas
do coração, pois isso os faz lembrar do ambiente uterino.
Existem aulas de musicalização para gestantes – e eu mesma
participei quando estava grávida. Nessas aulas, além de cantar e dançar (nada
muito agitado!), criamos melodias e fazemos uma seleção de músicas para ouvir
com os bebês (até colocamos headfones
na barriga, num volume moderado). Após o nascimento, é perceptível a reação dos
bebês quando repetimos as melodias e músicas da gestação: eles voltam sua
atenção para a música, se acalmam quando estão agitados, e dependendo da idade,
até sorriem!
Algumas mães me pediram sugestões de CDs para bebês. Existem
várias seleções de música clássica (Bach, Beethoven, Mozart...) e eu sugiro os
CDs/livros da Coleção História da Música para crianças, da Editora Alvorada, os
quais eu revisei e fiz traduções do espanhol. Conheço muitos trabalhos de
excelência, mas são difíceis de encontrar no mercado. Dentre os mais
comerciais, gosto dos CDs da dupla Palavra Cantada (“Canções de ninar” e “Meu
neném”) e os da coleção MPBaby (em especial as seleções de piano, tocadas e
arranjadas por André Mehmari).
Ana Lucia Gaborim (São Paulo, 1976) é doutoranda em Música pela USP,
onde realiza pesquisa sobre regência de coro infantojuvenil. É Mestre em
Música e Bacharela em Composição e Regência pela UNESP. Foi bolsista de
diversos festivais de música nacionais e internacionais; participou de
diversos encontros de Educação Musical promovidos pela FLADEM, ISME e
ABEM. Integrou e regeu diversos grupos corais em São Paulo e atuou como
professora de Música em escolas de ensino fundamental e conservatórios.
Em Campo Grande, desenvolveu projetos de musicalização infantil em
igrejas, trabalhando também com musicalização de bebês. Atualmente é
professora efetiva do curso de Licenciatura em Música da UFMS, nas áreas
de Regência, Canto Coral e Prática de Ensino. Coordena os projetos de
extensão “PCIU – Projeto coral infanto-juvenil da UFMS –“, “Semana da
Voz”, “Encontro de Regentes Corais”, “Simpósio Coral Infantil” e os
Painéis Funarte de Regência Coral em Campo Grande (MS). É regente da
Camerata de Cordas da UFMS e integra o Grupo Vocal Feminino “Maria
Bonita”. É também mãe de três meninos: Erik (11), Davi (7) e William
(4). E-mail: ana.gaborim@ufms.br Facebook: Ana Lúcia Gaborim. Outros
artigos da autora estão disponíveis em www.academia.edu