quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Um Bicho Papão chamado Depressão Pós Parto!!!


Depressão pós parto é um assunto muito sério que há tempos eu quero abordar aqui no blog. Estima-se que cerca de 60% das novas mães passam por uma forte melancolia após o parto conhecida internacionalmente como baby blues. No Brasil cerca de 40% desenvolvem depressão sendo que 10% apresentem a sua forma mais severa. Eu pensei em fazer uma  entrevista com algum psiquiatra para explicar melhor sobre o assunto, mas cheguei a conclusão que a experiência de quem viveu na pele esse bicho papão supera qualquer reportagem cheia de teorias sobre o tema. Por isso agradeço imensamente as quatro mães: Maria Cecilia (Araçatuba SP), Cristina (São Paulo), Paula (Goiânia) e Luciana (Campo Grande), que abriram seus corações e aceitaram conceder essa entrevista tão sincera e esclarecedora e que tem como único intuito ajudar quem está passando ou ainda vai passar por isso.

1- Olá mamães, primeiramente muito obrigada por concederem essa entrevista, podem ter certeza que a contribuição de vocês será de grande valor. Gostaria de começar perguntando como foi a gravidez de vocês? tranquila, tumultuada? o bebê foi planejado?

Maria Cecilia: Minha gravidez foi muito tumultuada..até então eu tinha todos os cistos (ovário polisistico, cisto enfim..rsrsrs) não podia engravidar, mais filho é de Deus....ele mandou na hora certa..rs...eu tive ameaça de aborto ,sangrei durante um mês..passei mto mal, não comia, não bebia,os remédios que eu tomava não paravam no estômago..tive também hiperemese gravitite.....passei uma barra terrível no trabalho, humilhação, desprezo, enfim, acredito que minha depressão estava começando por ai!!!! Mais ainda assim estava bem ansiosa pela chegada do meu Benjamin...

Cristina: Bem, eu  engravidei com 18 anos, no auge da minha maioridade, e não foi planejada, e foi muito tumultuada porque a minha familia e a dele não aceitaram de primeira, além de ter sido uma gestação de risco (placenta baixa) e ter descoberto com 15 semanas de gestação (eu não planejava ser mãe naquele momento). 

Paula: Como  quase todas as gestações a minha teve altos e baixos, não foi planejada, eu namorava já faziam 3 anos e a vontade de ser mãe era cada vez maior, me descuidei do rémedio e como tenho mega ovulação as chances de engravidar  eram grandes, meu esposo que na época era namorado não queria filho naquele momento, reagiu de uma forma muito ruim inicialmente, mais depois melhorou, curtindo cada fase da grávidez. Tive muitos enjôos até o 4 mês, enjoava ate de agua, tomei remédios para enjôos até essa fase, mais depois foi só curtir cada movimento da Duda dentro de mim, cada chute, ai como a danadinha chutava, engordei mais no final da gravidez, minha pressão sempre foi controlada, não tive diabetis, tudo correu bem até o parto, que foi cesariana, não tive coragem para parto normal...
 
Luciana: Eu já tinha 4 anos de casada e queria muito ser mãe mas meu marido ainda achava cedo, engravidei em um descuido nosso mas fiquei muito feliz com a notícia pois era algo que eu desejava muito. Ele se manteve frio e não demonstrou a mínima empolgação. Fiz tudo sozinha: enxoval, quartinho, ele não se envolvia dizia que o que eu decidisse estava bom, passei uma gestação bem solitária.

2- Em qual momento você começou a se sentir deprimida?

Maria Cecília:  Foi logo após o nascimento ...eu tive consciência da depressão quando comecei a ler na internet..até então, durante os 6 meses de vida do meu filho, eu fiquei trancada no quarto, não via tv, não entrava na internet, só vivia pra amamentar e cuidar dele, e detalhe, eu só amamentava depois de um banho, se não JAMAIS, enfim tudo isso me fez muito mal.

Cristina:  Desde o momento em que eu fui expulsa da casa da minha mãe foi um trauma muito grande, fora que quando eu estava morando na casa da minha sogra, minha mãe inventava que eu tive um caso com um cara, aí depois deste ocorrido trataram a minha gravidez com indiferença até a minha bebê nascer com a  cara do filho deles, nem precisou de exame de DNA rsrsrrss, fora a certeza que eu e o meu marido tinha de que a bebê era dele e que eu nunca o trai com outro homem em momento algum.

Paula: Meus sintomas apareceram depois de 1 mês q a Duda tinha nascido, mais me recordo que qdo ela nasceu eu fiquei meio anestesiada, não conseguia sentir todo aquele amor esperado, não conseguia demonstrar carinho, e o amor descomunal q tenho hoje. Mas quando levei ela na visita de 1 mês ao pediatra ele olhou pra mim e falou para o meu esposo: Sua mulher tá entrando em depressão vc tem q ajudá-la para que não se instale. A Duda chorava a madrugada quase toda, ia dormir com o dia nascendo,um choro desesperador, ficava roxa e nada a acalmava, durante o dia dormia mto e quase n chorava, mais a noite já era esperado,eu torcia pra noite não chegar. Meu esposo também começou a ficar irritado, brigava comigo com a nenem, levava no médico e ela n tinha nada ,foi muito dificil,chorava mto mais muito mesmo eu me sentia incapaz de cuidar da minha filha, não conseguia comer,fiquei só o trapo mesmo.

Luciana: A 1° vez que vi minha filha não senti a alegria e emoção que tanto sonhei e tanto ouvi falar que as mães sentiam. Esse é um fato que sempre vai me doer lembrar. Eu olhei pra ela e senti uma tristeza profunda, um medo desesperador, vontade de colocá-la de volta na minha barriga. Acho que minha depressão já começou aí e só fez piorar nos dias que se seguiram.

3- Quais eram os sentimentos predominantes nessa fase?

Maria Cecília:  Ninguém podia tocar no meu filho, eu limpava a casa 5 vezes por dia, passando álcool onde as pessoas passavam e tocavam, meu marido não podia segurar meu filho, nem minha mãe nem minha sogra..NINGUÉM..na minha cabeça só eu tinha esse direito e dever.

Cristina:  Insegurança, tristeza, vergonha de estar engordando, desprezo da parte de todos, menos do meu marido.

Paula: Incapacidade de cuidar da minha filha, tristeza profunda, fraqueza física e emocional.

Luciana: Uma tristeza muito grande, chorava muito, não queria ver o bebê, não queria cuidar, meu marido que até então não tinha se envolvido teve que aprender a ser pai na marra, ele que cuidava da nossa filha, pois eu só chorava ou dormia, achava que aquilo nunca ia passar.

4-  Você chegou a desenvolver alguma espécie de rejeição pelo bebê?

Maria Cecília: No meu caso eu desenvolvi foi um apego muito grande e uma obsessão com limpeza. Não confiava em ninguém pra dividir os cuidados com a minha filha.

Cristina: Não, principalmente quando caiu a ficha de que teríamos que ser fortes para superar tudo que vinha pela frente com a nossa nova vida.

Paula: Não cheguei a desenvolver rejeição a Duda em nenhum momento, mas me sentia culpada pela dor dela e não sabia do que se tratava.

Luciana: Sim, totalmente. Eu não queria vê-la, não amamentei, não cuidei dela no primeiro mês, nós moramos em um prédio e meu marido colocou grades nas janelas com medo de num surto eu joga-la de lá, aquilo me chocou mas confesso que no fundo achei bom ele fazer aquilo pois aquela idéia já havia passado na minha cabeça e só eu sei o quanto é dificil relembrar isso e estar contando hoje aqui pra vocês, mas quis falar pois esse assunto é muito sério gente, e as pessoas sabem pouco a respeito.

5- Como foi o papel do pai da criança nesse período?

Maria Cecília: Meu marido teve muita paciência,entendeu o estado que eu estava agradeço Deus por isso.

Cristina:  Digno de um homem, foi maravilhoso ele foi extremamente carinhoso, atencioso amoroso, e muito mais; eu tive muita sorte em ter escolhido ele como o homem da minha vida !!!

Luciana: Meu marido ficou muito preocupado comigo e insistiu muito para que eu buscasse ajuda médica, foi a melhor coisa que ele poderia ter feito.
 
6- No meio desse turbilhão vocês se sentiam culpadas por não estarem sentindo a alegria e vivendo aquele conto de fadas cor de rosa que a sociedade estipula em torno da maternidade?

Cristina: Sim muito, fora que o  meu corpo não voltou ao normal, fiquei com uma barriga enorme e com quase 100 kilos, desanimada e desestimulada, me isolei completamente.

 Paula:  Na fase aguda que a Duda tava complicada de cuidar com esse choro q não acabava, me senti frustrada pois todo mundo q conhecia falava do momento mais lindo q eu n estava conseguindo viver, mais ai foi melhorando,e como em momento nenhum  fiz uso de medicamento, eu que tive que me ajudar e consegui por causa do meu enorme amor pela minha filha.

Luciana: Eu me sentia culpada 24 hs por dia, eu queria estar curtindo minha filha, estar feliz, mas a tristeza era algo que eu não conseguia evitar por mais que desejasse muito.

7- Você tinha consciência de que estava sofrendo de depressão pós parto?

Maria Cecília: Eu tive consciência da depressão quando começei a ler na internet.

Cristina: Bem, eu li e pesquisei muito sobre o que estava acontecendo comigo, o meu desânimo, falta de interesse e sono muuuito sono.E descobri que estava com isso e as pessoas falavam que eu era uma preguiçosa,que eu estava com FRESCURA e no fim não era nada disso.

Paula: 
Eu não tinha consciência até o medico falar, achava que era coisa da vida de mãe mesmo.

Luciana:
Eu não tinha consciência, não entendia porque me sentia daquela forma.

8-
Tem alguma situação que você viveu nesse período que foi particularmente difícil?


Cristina:
Sim, eu ter engordado muito e ter abalado o meu casamento com a minha "FRESCURA",agora estamos nos recuperando da tsunami que passou em nossas vidas!

Paula:
Nada que eu me recorde agora

Luciana:
Foi aquele dia que citei acima, quando meu marido colocou grades nas janelas com medo que eu jogasse minha filha

9- Se pudessem aconselhar outras mães e familias que vivem esse drama, o que vocês diriam?

Maria Cecília: 
Deus. Ele foi minha salvação, a medicina ajuda muito mais se vc não tiver fé nada cura, nada passa....Hj eu estou muito bem, confesso que ainda protejo muitoo meu filho, mais com mais cautela sem exageros. As mamães que infelizmente passarem por isso precisarão também de uma base..a familia é muito importante nessa fase.

Cristina:
Olha, quando vocês perceberem que estão no olho do furacão se agarrem em algo bem sólido (fé, força de vontade, é difícil mas, é possível)  siga em frente por que não é fácil ser mãe e administrar uma familia tão nova . E ser mãe não vem com manual de instruções mas pode ter  certeza que vai ter um monte de gente com diquinhas preciosas. Você não é obrigada a acatar a todas, mas fiquem atenta para as que poderão mudar sua vida. Beijinhos!

Paula:
Eu diria que tudo passa, o que devemos pensar sempre é que ser mãe é uma dádiva de Deus, se nos foi permitido esse milagre temos que lutar cada dia plos nossos filhos, nunca devemos em momento algum abandonar essas criaturinhas feitas com tanto amor,que ao olhar pra gente qdo vai mamar dá vontade de chorar por não caber tanto amor. Várias vezes me encontrei chorando de felicidade e não acreditando que uma menina tão linda ,delicada,carinhosa e educada seja minha filha tão esperada e amada.Um presente de Deus na minha vida!!!!!!!!!

Luciana:
Eu só consegui superar a depressão pós parto depois que aceitei procurar um psiquiatra e fiz um tratamento a base de remédios e terapia. Hj amo minha filha mais que tudo e temos uma ótima relação, por isso se perceber algum sintoma dos citados aqui, não hesite em procurar ajuda. E lembrem-se sempre que apesar de ser uma ser uma doença, ela tem cura e vc precisa procurar por ela pra poder experimentar de verdade todas as maravilhas da maternidade. Boa sorte a todas!

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